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PEÇA TEATRAL: CASAMENTO MATUTO

Autor: Agnaldo Tavares Gomes
                                        (2005)



COMEÇO:

(Os convidados chegam e postam-se aos seus lugares, no aguardo do começo do casamento, exceto o bêbado e a Paraibana)

(Entra em cena a Paraibana...)

Música (01)
           
PARAIBANA: Boa noite meus conterrâneos! (depois de saudar o povo se recolhe num acento)

(agora entra o padre em acena, com semblante sério...)

Música (02)

O PADRE: (mudando sua personalidade) Uau!... Boa noite gente!... 
(o povo responde com seriedade)

(entra o bêbado em cena...)

Música (03)

(O bêbado aproxima do padre, que o olha com seriedade...)

O BÊBADO: O senhor é filho de Nestino? (o padre continua sério) Dá umas parencinha.

O padre: Queira se sentar!

O BÊBADO: Num carece não seu padre, aqui ta é bom, pode sentar o senhor que é autoridade.

O PADRE (com a voz vibrante): Queira se sentar!           

O BÊBADO: É, já que o senhor ta insistindo... (senta-se na mesa do padre) Desculpe se lhe ofendo, mas o senhor é a cara do intestino!

O PADRE: (revoltado) Respeite a minha mesa! Levante! Suma!...

O BÊBADO: (intimado, se levanta e sai titubeante...) Ta bom... Ta bom... Num carece empurrar não, seu padre...

(entrada do noivo: acompanhado do padrinho... Resistente)

Música (04)

O NOIVO: oxê! Que foi lá!... To cagado...? To mijado...? Intonce, qual é o recado?

O NOIVO (ao ver a noiva): Eita! Lá é vem a desgraça enfeitada!...

(entrada da noiva: puxada pelo pai, furioso...)

O PAI: Entra!...

A NOIVA (envergonhada): Num vou entrar não painho!

O PAI (puxa-a com mais força): Já disse! Entra!...

A NOIVA: Num entro não...

O PAI (mostrando a cinta): Vai entrar não é?!

A NOIVA: Entro sim...! Quem sou eu pra discordar do sinhô painho? Sou nem doida...

(enfim, a noiva entra intimada...)

Música (05)

(o noivo se dirige a noiva fazendo descaso de sua barriga)

O NOIVO: Mas o quê que é que é isso? Que livuzia é essa? Quando nóis namorava cê num tinha esse barrigão não!

A NOIVA: Num tinha mesmo não, mas dispoi que nóis... (o pai tapa-lhe a boca)

O BÊBADO: Vamos padre! Comece logo esse casório, isso ta me dando uma agonia danada...

(o padre inicia a casamento)

O PADRE (olhando para o pai da noiva): Em nome do pai... da noiva, estamos aqui por vontade... do pai da noiva, para unir ao matrimonio essas duas criaturas!

O PAI DA NOIVA (bravo com o padre): Padre! olhe lá como cê fala de minha fia!

O PADRE: Eu, um modesto servo desta paróquia, quero realizar neste dia de hoje...

(o bêbado interrompe)

O BÊBADO: vamo padre, se adiante! Tô com uma coceira danada nos pé, doidim pra dançar.

PARAIBANA: Se fosse só você dava até um jeitinho... Tem mais de duas horas que tô aqui sentada, tô com a bunda azul e nem por isso tô reclamando!

O PADRE (ao noivo) João da besta...

O PAI DA NOIVA (interrompendo): Olhe lá padre! Num ta querendo rezar teu próprio enterro não ne? Ou eu tô enganado?!

(o padre prossegue)

O PADRE: Aceita Zezinha barriguda...

(o pai da noiva apanha o rifle e aponta ao padre)

O PAI DA NOIVA: Padre! É a última Vaz que lhe falo cabra!... Prossiga!

O PADRE: ... Como sua legitima esposa?

O NOIVO: Aceito não!

O PAI DA NOIVA (apontando o rifle): Repita de novo o que disse! Tu veste carça ou vestido?

O NOIVO: Aceito sim!

O PADRE: Afinal, aceita ou não aceita? Acabe de vez com essa agonia homem!

O NOIVO: Pensando bem, deu uma vontade danada de casar agora...

O PADRE: Zezinha da... aceita João da... como seu legitimo esposo?

A NOIVA (sorrindo): Ai, padre, tô com vergonha...

PARAIBANA: Vergonha de casar tem. Mas na hora de furunfa!...

(o padre volta a corrigir o povo)

O PADRE: Respeite! Senão eu boto todo mundo pra fora! (olhando para o pai da noiva) Menos o senhor Raimundo e a sua santíssima filhinha...

A NOIVA (tentando abraçar o noivo): Aceito, aceito padre com prestíssimo gosto!

O NOIVO: Sai pra peste! Num fui eu que te embarriguei... (o noivo sai correndo seguido pela noiva...)





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